domingo, 6 de abril de 2014

Simplicidade


Aquela gente humilde, e mesmo pobre da minha cidade, é que mais me atraía, pois, como eles precisavam da gente, dos meus pais, nós também precisávamos deles. Era para fazer uma mudança, era para rachar uma lenha, ou para uma arrumação na casa, sempre estavam prestativos.

Meu pai gostava de rachar lenha para casa, mas não era sempre que podia fazer. O que ele gostava mesmo era de pegar os troncos grossos, que ia buscar no mato, com uma carroça que alugava, com o carroceiro e mais um ajudante, ia lenhar. Levava a comida pronta, água num garrafão, pão, linguiça o bastante e, ficavam até tarde no mato de um fazendeiro amigo, que dava a lenha para ele cortar. Madeira cheirosa, como o coração de negro, jacaré, pau d’alho e, outra madeira vermelha e dura de rachar. E, ele não cortava as toras, nós lá em casa é que ajudávamos a serrar, para depois partir ao meio com o machado. Nossa tarefa era juntar os cavacos (pedaços de lenha), levar para dentro do rancho e ajudar a serrar. Revezávamos eu, meu irmão e os primos, depois de crescidos. Tudo era um divertimento, uma brincadeira para nós.


Quem ia ajudar a recolher a lenha da rua, era, muitas vezes, o João Outeiro, ou o Zé Foguete, que nós assim o apelidamos, porque fazia um ruído esquisito com as mãos, debaixo das axilas. Muitas vezes também, a Isaura ia ajudar a limpeza da casa, fazer a arrumação do quintal e lavar a casa comigo. Ela e o filho, com meus irmãos e primos. Uns carregavam água nos baldes, outros ajudavam a puxar a mesma. Eu e ela esfregávamos o chão. Eram nove cômodos, fora o passeio em redor de casa e a escada. Ficávamos até a hora do almoço na limpeza. Depois, recolhíamos os móveis da sala, arrumávamos os quartos e, limpávamos tudo com óleo de peroba e querosene, para brilhar e cheirar gostoso.

“Cheiro de limpeza”.
Quando eu era pequena esse serviço era feito uma vez por mês, por meus tios, pais e tias que moravam em casa. Mas sempre tínhamos alguém para ajudar na esfregação do assoalho. A Sebastiana da Nhá Emília, uma serviçal da casa de mamãe, sempre tinha uma hora disponível para isso. Ela ajudava minha mãe na arrumação da cozinha e lavagem de roupas. À tarde, a casa brilhava, com tudo no lugar. Vasos de flores, tapetes, cortinas, uma beleza, não havia enceradeira, aspirador de pó e nem rodinhos para puxar a água, era tudo na força do braço!

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