domingo, 29 de junho de 2014

Carta do Sr. Francisco Patrício

Sr. Francisco Patrício nasceu em 20 de março de 1911, na estância de Serra Negra, onde viveu com seus pais, José Pires da Silva Patrício e Gertrudes Oralinda Patrício.

Francisco Patrício - história


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Caso inusitado ocorrido na pacata cidade


Foi um crime bárbaro, pela sua frieza. Motivado por ciúme, ele ocorreu na nossa cidade no ano de 1918. Serra Negra sempre ordeira, com seus moradores, gente pacata e amiga, assustou-se com tamanha crueldade, praticada em uma manhã de sol, em uma das ruas da sonolenta população.

Foi o Lazinho, um pedreiro, que alucinado pela paixão por Amélia, filha do portador da Estação da Mogiana, alcançou-a quando ia para o trabalho de costureira, na rua Rio Branco e, assassinou-a com uma facada no coração. A moça não teve tempo de reagir, nem mesmo correr. Ele apenas gritou por seu nome e feriu-a de imediato, sem que a vítima tivesse qualquer reação. Ela, uma linda mocinha, muito estimada pelos amigos era única filha do casal.

A cidade se abalou. E, naturalmente ,acudiram a família, consolando no que foi possível. Ao enterro, no cemitério local, foi grande o número de amigos e parentes. O operário assassino foi preso e depois de julgado, ficou muitos anos na cadeia local. Depois de solto, voltou a trabalhar. Mais tarde, depois de muitos anos, suicidou-se com um tiro no ouvido. Ficou sua velha mãe, que lamentava ter um filho que era muito bom, mas por amor e também por remorso se matou.

A Rua do Sapo


Recordações das passagens pelas ruas da minha cidade que tenho.
Havia ruas que eu tinha medo de passar, como a Rua do Sapo.

Essa rua ficava no final da cidade, na saída para Lindóia. Quando mamãe precisava falar com uma lavadeira ou uma cozinheira que morava por ali, era um verdadeiro sacrifício ir para aquelas bandas.
Os batráquios saiam dos esgotos e, a rua, permanentemente molhada, atraia os sapos e as minhocas para a alegria dos pescadores.

Pela rua Catorze de Julho, no centro da Luz Elétrica, que por muitos anos esteve localizado embaixo da Prefeitura, passei muitas vezes a cavalo para ir para a Escola no Bairro das Três Barras, com a professora Arminda Brusquini, que era a professora  estadual no mesmo lugar. As estradas eram de terra, assim como as outras ruas da cidade e quando chovia ficavam uma lama lisa como sabão.

Era divertido para muitos fumantes colocar um cigarro na boca de um sapo enorme que ali permanecia todas as noites para saborear bichinhos, grilos, baratas e mariposas que ali apareciam. O batráquio parecia gostar de ficar com o cigarro na boca, tirando suas fumaças de vez em quando. O Benedito, o Nora e o Lola eram os que mais se divertiam com essa brincadeira. No jardim, o jardineiro Chico Martins tinha muito cuidado para que as crianças não maltratassem os sapos, pois eles é que limpavam os canteiros dos bichinhos maléficos para as plantas, as lindas roseiras cultivadas por ele com muito carinho.


sexta-feira, 20 de junho de 2014

A Festa de Santa Cruz




O passatempo no sítio, onde lecionei durante dois anos era, às tardes, sentar-me debaixo das frondosas árvores no pasto, onde havia uma brisa fresca que deixava a gente ficar à vontade, depois de um dia cheio de calor. Ali, a gente lia, fazia alguns versos que eram guardados ou rasgados.
Eu sempre gostei de escrever e, achava falta, na correspondência de casa, jornais, revistas e mesmo cartas de Hildebrando, que quando eu chegava em casa, lá estavam a me esperar. Ele sabia que aos sábados eu estava em casa e, por isso, enviava nos dias que não ia também.

Ele trabalhava na revista “Onda” em Campinas e no Jornal Gazeta de Campinas. Escrevia crônicas e redigia o jornal juntamente com o Benedito Cavalcanti e outros. Nesse tempo, ele já conhecia o Zeca Mendes e o Cesar Otaviano que era cantor. O Chico Hadad e mais outros colegas de jornalismo, Aristides Monteiro, Honório de Sillos e, um outro poeta que era de Minas e também o de Capivari que trocavam correspondência – mais tarde morreu tuberculoso, não chegando a se encontrarem.
Hildebrando era também da turma futurista de Mario de Andrade, Osvald de Andrade, Tarsila do Amaral, Álvaro Moreyra e sua mulher; e sempre dava notícias das reuniões das quais tomava parte.
Eu ficava a ouvi-lo entusiasmada com as novas que acontecia. E do movimento dos poetas entre eles: Menotti Del Picchia, que fez o seu autorretrato, oferecendo a Hildebrando, que ficou radiante com a oferta.

No sítio, a minha distração era ouvir os passarinhos, tratar de galinhas com a dona da casa e, ir nos dias que era tradicional de rezas de Santa Cruz, de Sant’Ana, dia três de maio e 26 de junho, costurar para as crianças da casa e bordar.

Fomos, numa tarde muito bonita, em turma, para um sítio perto, mais perto de Amparo que de Serra Negra e, lá, passamos umas horas ouvindo os violeiros tocarem e cantarem, fazendo desafio uns para os outros e oferecendo também versos às moças. Eram de Itapira, os tocadores irmãos Serra. A mim dedicaram uns versos que me encabularam, pois diziam que eu estava triste, talvez com saudades de alguém que estava distante, mas eu acho que eu estava era cansada, pois andamos a pé um estirão de estradas e eu já estava pensando na volta, no escuro da noite. Eu sem traquejo de andar no caminho, que pela primeira vez andava e, não conhecia direito. Foi o que aconteceu, na hora de voltarmos, peguei no braço de uma das mocinhas da família Moser, que me ajudou a atravessar a pinguela...

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Mocidade


No ano de 1924, eu ainda lecionava e andava a cavalo pelas estradas arenosas, cheias de curva e barrancos, que me levavam da cidade para a escola.
O cheiro bom que vinha do capim e das plantas da beira da estrada, me fazia esquecer das canseiras das idas e vindas do meu ofício de professora. Ganhava pouco, mas o suficiente para manter o meu dia a dia de moça vaidosa que gostava de andar conforme o seu gosto. Nunca fui de acompanhar a moda exagerada do tempo, não gastava comigo sozinha, tinha também irmãos e parentes para ajudar. O salário era muito pouco, mas dava para repartir as migalhas. No aniversário de meus pais, sempre arrumava um dinheirinho para um presente.

Gostava de trabalhar e o meu sacrifício era saber que em casa ficava minha mãe com meus irmãos sem empregada, muitas vezes, tendo que fazer o serviço caseiro, que não era pouco. Ela costumava arrumar diaristas para o serviço mais pesado, que era o de lavar escadas, varrer o quintal, limpar o galinheiro e lavar roupa caseira, pois as mais pesadas iam para a lavanderia e minha mãe fazia gosto dela mesma passá-las a ferro. Daí então, chamava a Isaura que quebrava o galho levando o filho, Cid, que era meninote de seus sete anos, e ajudava a mãe no serviço caseiro, e fazia compras para minha mãe. Meus irmãos ainda pequenos e primos, Bráz, Wilson, Cida, também entravam na folia da brincadeira de carregar água nos baldes e lavarem com escova as escadas da casa da Rua Tiradentes, onde moramos mais de dez anos. Eu, sempre que podia, comandava a limpeza, ajudando também na esfregação do assoalho.

Agora, passados cinquenta anos ou mais, talvez sessenta e tanto, volto a recordar o meu trabalho caseiro e também saindo três ou mais vezes por semana para a ir até a Hortência, que costurava para muitas freguesas e pedia minha ajuda no bordado ou para riscar os trabalhos...

Hortencia, como já citei em outra Crônica de Saudade, era para mim e, para seus conhecidos, uma verdadeira heroína. O marido era doente, nem sempre podia trabalhar e, assim, ela garantia com seu trabalho de costureira, aliás, uma costureira que dava gosto às freguesas. Admirava seu modo de lidar com as pessoas, sempre com paciência e alegria. Acompanhei-a desde que a conheci em 1914 ou 1915, quando fomos vizinhas na rua José Bonifácio. Teve uma filha, a Ciloca e, mais tarde, a Maria de Lourdes. Anos depois é que teve mais dois, um deles falecido muito pequeno ainda.
Família antiga, gente de raça, os Freire e Assis. Ela casou-se com Ariovaldo Campos, também de família tradicional em Serra Negra; dona Francisca de Campos, sua mãe, seus irmãos Joaquim e Adeina Campos. Senhor Ariovaldo trabalhou como estafeta (mensageiro) no correio local e também num cartório. Foi professor de violino de muita competência e respeito.

Essa gente deve viver na lembrança dos serranos sempre, para perpetuar nos seus descendentes o seu nome.