terça-feira, 8 de abril de 2014

A boa velhinha


Minhas lembranças são uma constante.
Sempre pensando em minha avó Marica e, com saudades o faço. Toda vez que eu me dirigia para a escola ou outro lugar qualquer, a cavalo ou de trolinho, minha avó me abençoava e desejava boa viagem, com muito cuidado e carinho por mim. Era uma pessoinha muito franzina, depois dos seus sessenta anos de idade, muito trabalhadeira e quase não dormia.

A hora que eu acordava com o ruído dela na cozinha a mexer na água e fazer o café, também me levantava e perguntava a ela: que horas são? Ela respondia: sei que o galo já cantou uma dúzia de vezes desde que me levantei... pelo céu escuro ainda, sem sol aparecendo no horizonte da serra ainda escura, eu calculava, antes de olhar no relógio: – Devem ser seis da manhã. E daí ia olhar o relógio na sala de jantar, que sempre papai dava corda antes de deitar-se e, os ponteiros acusavam, um quarto para as seis ou seis e dez.

Chegava às sete, mais ou menos, o padeiro e, também, o leiteiro Vicentini. O café já estava cheirando gostoso, mas o leite demorava mais até ferver, e, então, ficávamos conversando. Ela sempre preocupada com os filhos, que moravam longe. Um estava em Guaxupé, Minas, como chefe de estação; o outro, o Padre Tancredo, em Monte Alto e, depois, no Rio Grande do Sul, em Pelotas. Quando cresci mais e já sabia escrever cartas, sempre enviava notícias dela e de todos de casa. Eles escreviam só para mim, não sei porque e também nunca perguntava nas cartas, a razão por que não davam notícias com mais frequência. Nunca vovó Marica recebeu um presente desses dois filhos, que eu me lembrasse. Mamãe e Papai, apesar dos apertos de casa, sempre acudiram os irmãos e cunhados e, também, vovó, que Deus a tenha em bom lugar, pela paciência e pelo muito trabalho que teve em sua vida.

Com sua morte, ficou um vazio em minha casa. Isso foi em 1925. Tinha muitos amigos e, até o Pároco da cidade, o Monsenhor Manzini, achou falta da boa velhinha, que lhe enviava as palhas para o cigarro...

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