sexta-feira, 21 de março de 2014

Tempo e Lembranças do Tempo


As lembranças de meus antepassados e amigos, que residiram desde o começo do século em minha cidade, em convivência quase que diária com meus pais, é uma constante em meu pensamento. A cidade, sendo pequena, dava para ser constante o encontro com amigos e parentes, em uma prosa, ou mesmo em uma visita de compadres.
Os encontros hoje em dia, são em clubes, teatros, cinemas. Os jovens esportistas e as moças de colégios têm seus lugares preferidos, seus bares, boates e jardins onde se reúnem.

Mas era tão gostoso o ritual da visita ao compadre, mesmo sem motivo de grande importância.  O sorriso largo na chegada, o abraço apertado sem hipocrisia, o convite alegre e as palavras simples – identificação e satisfação do hospedeiro: “– Vamos chegando.” Estas simples palavras, diziam toda satisfação de quem nos recebia.
Havia, também, as visitas mais protocolares. O nascimento de um filho e aniversário de um dos parentes ou amigo. Daí já não era aquele papo informal, caseiro, sem cerimônia, “dos Maria dá cá o pito”, de um para outro fazendo seu cigarro de palha.
Tomava-se o cafezinho feito na hora, coado no coador de pano, chaleira no fogão de lenha que chalreava. Como toda cozinha grande, como eram as antigas, tinham grandes chaminés que, às vezes, pegava fogo e, era então a correria da dona da casa para chamar um pedreiro para limpar e apagar o fogo que bufava na chaminé. Às vezes, mas nem sempre, saía um bolinho fofinho, coberto de açúcar e canela. Minha avó e minha mãe, quando eram avisadas das visitas, tinham sempre o que oferecer. Lembro-me de uma vez, que chegou uma senhora em casa, com sua filha ou neta. Com não  podia tomar o café que eu trouxe com a bandeja e xícaras, bem arrumadinhas, aceitou um cálice de licor de figo, que eu fizera uns dias antes. Não sei se o licor ainda não estava no ponto, só sei que ela se atordoou e, na hora da saída, foi preciso que mamãe e a neta dela lhe dessem o braço, pois estava tonta. Ela saiu perdendo, porque os bolinhos de minha vó estavam esplendidos, com o café coado na hora.

Eu gostava de acompanhar meus pais, quando era convidada, mas preferia ir quando havia criança na casa, porque ficar sentada, quietinha numa cadeira, sem se mover, era difícil, mas diziam que era feio se mexer muito. Era um sacrifício. Foi o que aconteceu uma vez, que adormeci ou cochilei, e, quase ia caindo da cadeira, se meu padrinho Emilio Zelante, que estava de olho em mim, não me acudisse logo. Sua filha Aurea estava na fazenda com outros irmãos. Não era costume levar crianças em visitas de cerimônia, como até hoje, mas eram meus padrinhos de crismas e fomos convidados.

Minha avó pouco saía de casa. Ia à igreja aos domingos, de vez em quando na casa de um dos primos, ou dos filhos, como a família Zanoni, que eram parentes nossos, sendo o pai deles, irmão de minha avó Marica. Lembranças da Nhá Tudinha Brandão, que íamos quando convidadas para tomar um cafezinho, com broinhas, daquelas que o João Cafuringa vendia nas ruas e que eram deliciosas.
Tempo bom que a gente relembra sempre, com saudades das pessoas, que não se vê mais...

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