quarta-feira, 26 de março de 2014

Gripe Espanhola

“Instituto Butantan. Produtos indicados na gripe espanhola. Soro hemostático, extrato suprarenal, extrato tonisular, soro normal de cavalo e soro camforado”. 2 de nov de 1918

Anos de 1918 e 1919

Você deve se lembrar de quando acabou a guerra em 1918 a alegria que houve no Brasil, e em nossa querida e sempre florida Serra Negra. Passeatas com muita música pelas ruas, muita alegria com a paz que parecia retornar no mundo todo.

Mas a alegria durou pouco, pois a tal da gripe espanhola, aqui para nós foi um flagelo total. Não houve casa que não ficasse com todos ou com uma parte na cama, muitos perderam seus parentes e amigos. Não havia médico na cidade, além do Dr. Firmino Cavenagni. Esse mesmo apanhou a gripe com pneumonia e, foi preciso esperar vir um médico do Rio de Janeiro, Dr. Paranhos, que tratava do Dr. Firmino e de todos os enfermos, que não eram poucos. Nessa ocasião, morreu tia Oscarlina, de vinte e quatro anos, deixando três filhos. Moça ainda, não resistiu a pneumonia dupla e, também, por falta de assistência médica. Era medicada sem que o médico pudesse visitá-la, pois estava no bairro das Três Barras e, o médico, não podia deixar outros doentes para socorrê-la. Foi uma tristeza, saber que tantos precisavam de médicos e remédios e que tudo faltava no momento mais cruciante (insuportável). Meu irmão ia a cavalo, debaixo para cima, levando as poções que o doutor receitava, não só para ela, mas para diversas pessoas. Muitos morreram nesse mesmo momento de angústia das famílias. No Rio de Janeiro, então, amontoavam os cadáveres nos hospitais, que eram removidos por caminhões para o cemitério, dia e noite. Esta foi a página mais triste de toda a nossa história. Faltar médicos na hora em que mais era necessária a sua presença na cidade.

Justamente, nesse ano, tinha-se programado um espetáculo teatral infantil, em benefício de uma obra assistencial, e que, seria assistido pelo nosso Bispo Diocesano, Dom Nery. As meninas que tomavam parte nos ensaios foram adoecendo de duas em duas, ou até mais, pois foi preciso interromper os ensaios por falta de comparsas. A peça era a Branca de Neve, de escritor campineiro, Benedito Otavio, sendo uma opereta muito bonita.

Foi proibido ajuntamentos, fecharam-se cinemas, o jardim público ficou deserto por uns meses, até passar a epidemia. Terminado os ensaios, levou-se a peça da Branca de Neve, que foi muito elogiada, pois a música era muito bonita e, os anõezinhos, que eram sete, eram meninas da sociedade, a Diva Brusquini e uma das Cristiani, a Isabel Faria, Dirce Godoy, Lila Oliveira, Odila Amaral e outras que não me vem a memória. Eu fiz o papel de caçador. Maria Luiza de príncipe, muito delicada e esplêndida no seu papel. A rainha era a Jupira Amaral. Conceição de Souza Quirino era o rei, muito vistoso na sua roupagem real. Havia também as pajens. Foi uma peça muito bem ensaiada, pela Carminha que tocava piano e, pelo Maestro Livio Benditis, que dirigia a orquestra. Aplaudiram muito e houve pedidos de bis. Na primeira apresentação, fomos muito elogiadas pelo Bispo Dom Nery.

E assim era nossa vida na querida velhinha que não era tão idosa, nem centenária, mas muito querida por todos os seus filhos.

foto: Reclames do Estadão

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