terça-feira, 18 de março de 2014

Serenata


Ao longe se ouvia o som de uma música suave e melodiosa, que embalava na madrugada friorenta, e vinha chegando mais perto. E eu acordada, já desperta, ficava a escutar. A valsa terminava bem perto de minha casa: na esquina da rua José Bonifácio, ouvia depois as vozes dos seresteiros que talvez já fossem se recolher, pois era madrugada. Amanhecia quase.

Era o conjunto do Nicolino Fatigatti, com seus companheiros: Casimiro Fiorentini, o pistonista Quinzote - inigualável, como ele só no piston, mais ninguém -, o Scaramelli na flauta, e mais um ou dois que agora não vem à lembrança. A “Valsa da Meia Noite”, “Branca”, “Ave Maria”, “Três da Madrugada”, “Luar do Sertão”, “Triste” eram as músicas mais preferidas para uma serenata, pois eram bem românticas e sentimentais. Eu e minha amiga Maria Luiza, que também tocava violino, adorávamos quando, no cinema, nas serenatas ou bailes, ouvíamos e dançávamos essas valsas.
Eu não levantava para ver, mais ficava trêmula de emoção em ouvir, vindo de longe os sons maviosos da serenata.

Na mesma rua em que morava, morava também o Nicolino com mãe e irmãos. Ele tinha alunos de música, e tocava em orquestras da cidade, o Quinzote, que era da família Campos, também fazia seus exercícios, ensaiava, andando pela sala de sua casa, tocando com perfeição. Sempre gostei de música e comecei a aprender violino com seu Ariovaldo, da mesma família Campos. Serra Negra, sempre foi uma terra previlegiada, pois seus filhos, os moços que conheci, quase todos tinham amor pela arte musical: Cassio Godoy, Nareu Tezzoni, tocavam de ouvido, com maestria o piano; Benedito Amaral, o Tico no violino era um mestre.

Que saudades de minha terra, das serenatas ouvidas com emoção nas madrugadas friorentas...

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