sexta-feira, 23 de maio de 2014

Notas de um casamento na roça


Saímos a cavalo do sítio, onde tinha a escola que eu lecionava, eu, Sr. José e a família, às 10 horas da manhã, para irmos a um casamento, de uma das moradoras da fazenda vizinha. Eu aproveitava a companhia deles, para ir à cidade, pois era sábado e, tinha meus programas já feitos. Chegando ao lugar, onde eu pretendia separar-me deles, quem diz que deixaram-me seguir caminho!
– Não senhora, quem veio até aqui, vai chegar com a gente. Não pode fazer feio; irão perguntar pela professora e irão saber também que não quis ver a noiva, nem almoçar com os noivos.

Não quis me fazer de rogada e, fui até a casa do sítio, que era bem distante.
Entramos pelo quintal, onde era o terreiro de café e, já estavam armados os toldos, devido ao calor do sol daquela hora. Ali seria servido o almoço do noivado, antes do casamento. Pais e parentes dos noivos convidados iam chegando. Cumprimentavam a gente, com muita formalidade, pois eu era a professora, uma figura importante para todos.
A mesa era grande, coberta com uma toalha vermelha muito alegre, que dava uma nota bem alegre e festiva ao lugar sombreado. Os assados cheiravam bem e atiçavam o apetite. O almoço devia ser servido até o meio dia, para termos tempo de chegar à cidade, para o casamento, que seria às quatro horas da tarde. Mas, eu vi que ninguém tinha pressa, só eu é que estava preocupada com as horas.
Serviram a mesa, pratos e mais pratos; saladas em bacias de alumínio, macarronadas, carnes, frangos aos montes e, uma bela leitoa assada com farofa. Os brindes, copos e mais copos de vinho e, as galhofas e as piadas para os noivos, não terminavam e, também não terminavam nunca de
comer, com isso, a hora ia passando. Quando deram fim do almoço, foi uma debandada geral em busca dos cavalos que estavam nas cocheiras e nos ranchos perto dali. Os que ficaram, os mais velhos e empregados da fazenda, iam colocar em ordem o terreiro para à noite, onde haveria o baile tradicional.

Era uma família de muitos filhos, netos e demais parentes, que formavam quase uma centena deles. A noiva e o noivo foram à frente da cavalgada, e, ninguém podia atrasar-se na estrada, pois estávamos em cima da hora, principalmente a noiva, que ainda ia para a casa da costureira para vestir-se; tinha que ter tempo suficiente para isso e, ir para a igreja.

A algazarra era grande, uns caçoavam com os outros, naquele fala caipira de um italiano abrasileirado. Os pais com os filhos no colo ou nas garupas, as mães com os nenés seguiam com toda habilidade, comum desembaraço, que eu me espantava, em selas. Sentadas de lado no cilhão*, segurando firme as rédeas, com muita postura, apesar do filho no colo.
Como já disse, chegamos em cima da hora. Debandaram todos. A noiva foi para a casa da costureira, que, naturalmente, já estava esperando e, o noivo, foi vestir-se também em casa de amigos. Os demais ficaram esperando na igreja. Eu fui para minha casa, a fim de arrumar-me para assistir a cerimônia. Mas, quando cheguei, já havia terminado e, os noivos, já estavam saindo da igreja, para irem a uma confeitaria tomar refrescos e comer, naturalmente, uns doces da cidade, pois os do casamento haviam ficado para o fim da festa, que seria junto com o tradicional baile, tocado à sanfona, violas e, os roceiros cantores, na tulha do terreiro do café, nesta altura, já toda enfeitada de bandeiras vermelhas, amarelas, numa fantasia louca de cores.

* cilha - cinta larga, de couro ou de tecido reforçado, que cinge a
barriga das cavalgaduras para apertar a sela ou a carga

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