quarta-feira, 7 de maio de 2014

Mataram o Manoel


Nos tempos remotos de minha infância, ouvia minhas tias cantarem modinhas de amor. Tinha a “Adeus Emilia”, que minha avó não gostava, porque achava que era maliciosa, sem graça alguma. Mas a música, era bonita e tinha embalo que encatava os ouvidos. Era agradável. A “Rosa Branca”, “Beijos Loucos”, também, eram modinhas de trovadores do nordeste de Minas, todas muito bonitas, as quais eu ouvia e aprendia logo, cantando com elas e as amigas que vinham em casa, a Vica Godoy e a Laura Nascimento, que era prima da minha mãe e tias. O divertimento melhor era o teatro, que também tomava parte nas peças, dramas, dramalhões daquele tempo, que fazia chorar até frades de pedra. Também algumas comédias bem boazinhas.

Quem trabalhava também nelas eram os rapazes e senhoras, tais como: o Lola, Frederico Domingues, Manoel de Oliveira, meu cabeleireiro, naquele tempo. Ele era do barbeiro que fazia a papai e cortava o cabelo de meu irmão. Eu gostava do Manoel. Numa das peças de teatro, muito comovente, eu ia porque fazia questão de ver minhas tias no palco. O Manoel tinha que levar um tiro e cair ensanguentado. Daí é que foi o negócio, porque ninguém esperava eu abrir um berreiro, achando que mataram o Manoel! Foi preciso que me retirassem do teatro e, no outro dia, o Manoel foi em casa me consolar.

O teatro incendiou-se numa noite de gala. Senhoras desmaiaram, moças atropelavam-se escadas abaixo e, senhoras gritavam para acalmar, foi um pânico geral. Os comentários, no dia seguinte, foram os mais diferentes possíveis. Quem ficou de fora do teatro, apreciou o atropelo geral do povo e a gritaria. Uns torceram os pés, outros rasgaram roupas, vestidos, bolsas perdidas, luvas e até enchimentos de cabelo foram encontrados no meio das cadeiras e camarotes. Ficou ainda, lá na esquina da rua José Bonifácio, o casarão do velho teatro, que tanto serviu a população em diversões.

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