quinta-feira, 8 de maio de 2014

A agitada vida cultural da minha cidade



Os teatros e os cinemas do meu tempo deixaram também ótimas recordações. O Teatro Municipal, situado na esquina da rua José Bonifácio com Saldanha Marinho, era um edifício antigo, de construção severa. Era muito grande.  A plateia acomodava bem umas cem pessoas, com camarotes bem folgados, de onde assisti muitas peças teatrais com meus pais. Havia também a geral, com bancadas, que nos ensaios das comédias e peças, nós, meninas do catecismo, ensaiadas por dona Eliza e dona Carminha, sua filha, ficávamos brincando. Ali, muitos anos atrás, eram levados também muitos dramas e comédias, pelas senhoritas e moças da cidade, como minhas tias Luiza e Adelaide, a Maria de Oliveira e outras, cujo nome não me recordo. Os rapazes e senhores eram o Manoel de Oliveira, o Ezequias Marques, o Lola, o Frederico Domingues e outros amadores, com os quais nos divertiam com seus trabalhos artísticos.

Mas, numa noite de muito movimento, teatro cheio, com a peça no meio, começou um incêndio que não teve proporções mais dramáticas, nem feridos graves, porque deram logo o alarme. Mas, a correria foi grande e assustadora, com muitos desmaios, gritos e tombos, por parte das senhoras, que acabaram perdendo as bolsas, sapatos e luvas. Eu não estava, naturalmente, no teatro, mas sozinha, porque mamãe tinha dado luz a um menino há poucos dias e, meus pais não foram. A cidade ficou em polvorosa, devido aos boatos que corriam de imediato. Minha avó, preocupada, quis ir ver o que aconteceu. Quando chegou, minha tia Luiza estava toda despenteada e, minha tia Adelaide, com o vestido todo molhado, pois ajudou a jogar água nos bastidores, apesar do incêndio ter começado no porão do teatro. A fumaça foi maior que as chamas, que só chegaram a enegrecer as paredes, mas não queimaram os bastidores, nem o palco. No outro dia é que fomos saber o que havia sido queimado, dos prejuízos e do que havia sido salvo pelas pessoas que acudiram logo e que estavam mais próximas do palco.

Esse teatro foi, por muitos anos, a atração dos serranos, pois não havia outro, a não ser um salão onde o Átila passava filmes mudos e na maioria franceses, de Max Linder e outros atores cômicos. Era no largo da Matriz, onde mais tarde, foi o club Democrata. Alí, também, dancei muito com os rapazes do meu tempo, o Marino Ricci, que valsava muito bem, o Américo Scaramelli, o Renato Perondini, o Santini Mattedi, o Rodolfo Marchi e, muitos outros bons dançarinos, tendo como mestre-sala, o Giacomino, que residiu muitos anos em Serra Negra. Os cinemas bons, como o Joly e o Central, se desafiavam em trazer filmes da época, modernos. Foi o tempo áureo do cinema, dos filmes franceses, italianos e americanos. Fitas em série, de Pearl White – “O Cavaleiro Fantasma”, Judex, Fantomas, Ravengar e dezenas deles, um melhor que o outro. Havia domingo que não se sabia em qual cinema, ou melhor, qual filme assistir, tal era a competição.

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