quinta-feira, 25 de junho de 2015

Histórias da minha avó – A Hora das Almas

Maria Zélia Siqueira – agosto de 2009

Minha avó Ângela gostava de contar histórias para os netos todas as noites. Esse era um momento mais esperado por nós, que ficávamos ao seu redor. Sempre era o mais novo que ganhava seu colo e seu carinho. Ela ficava passando a mão em sua cabeça, fazendo cafuné, até mesmo para que esse dormisse logo.



Seu repertório era variado: histórias de fadas, de princesas e até de terror. A que eu mais gostava era a "Bela e a Fera”, ouvia repetidas vezes e não me cansava, mas as favoritas de minha avó eram as de terror. 

Contarei uma delas:

Havia uma mulher que gostava de ir à missa todos os dias, só que tinha como hábito, chegar muito cedo. Certo dia, ela acordou assustada e correu se arrumar, achando que estava atrasada para ir à igreja. Chegando lá, a missa já tinha começado. Ao andar pelos bancos, passou pelo corredor procurando um lugar, um conhecido, mas reparou que não reconhecia ninguém e que todos estavam de cabeça baixa, também não se ouvia um ruído, tudo era um silêncio só…

O padre, vestindo uma batina escura e de capuz, ao ouvir os seus passos, virou de repente, como se alguém o interrompesse, olhou direto em seus olhos e… qual não foi o susto da coitada, o padre era uma caveira! A mulher ficou mais branca que uma vela, nem conseguiu gritar.  Ficou muda, só teve o impulso de sair correndo. Quando parou para tomar fôlego, olhou no relógio descobrindo que ainda eram quatro horas da manhã e… aquela missa, era a missa das almas!

Isso, para nós que éramos pequenas, era uma história de terror das mais assustadoras. Muitas vezes, minha mãe tinha que deixar uma luz acesa até que a última filha dormisse. Por falar nisso, nós dormíamos todas em um quarto só. Eram as mulheres em um quarto e os homens em outro, em todas as camas enfileiradas, uma do lado da outra. Ainda em amparo, morávamos em um casa de esquina, com cômodos grandes. Se não me engano, na Rua Luiz Leite.

Ela era minha avó materna. Era muito meiga e atenciosa, uma contadora de histórias de primeira.
Morava conosco também, a minha tia Lourdes, irmã de minha mãe. Lembro-me desse tempo com muito carinho e saudade.

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