terça-feira, 1 de julho de 2014

Jagunço


O professor Roberto ia viajar com a família e pediu-me para tomar conta do seu cão de estimação, um “Bulldog”, que o acompanhava há muitos anos. Iam demorar um mês, mais ou menos, durante as férias. Eu me encarreguei de tomar conta do animal e o Nelson, empregado do professor, levou o cachorro, chamado Jagunço, para minha casa, que ficava no fim da Rua José Bonifácio. O quintal era grande, um verdadeiro pomar e alí o cão podia correr à vontade.

Com as crianças, meus irmãos e primos ele se divertia a valer, correndo pelo quintal e acho que não estranhou e nem sentiu a falta dos donos. Comia e dormia perto do meu quarto, embaixo de uma mesa pois, de receio que escapasse e fugisse para a rua, não o deixava dormir fora no quintal.

Passado o tempo das férias, o Prof. Roberto voltou e mandou o Nelson buscar o cachorro, o Jagunço, que não quis acompanhar o menino, nem saiu do lugar onde estava . O Nelson prendeu na coleira de corrente uma cordinha para puxá-lo, mas o cachorro firmou corpo e não arredava as patas do lugar. Quando ví que o cão ia se machucar com o esforço do menino, me propus a levá-lo embora.

Chamei-o: “Jagunço, vamos passear, venha...”
Ele levantou-se de imediato e acompanhou-me sem mesmo precisar da corrente.
Chegando na casa do Prof. Roberto, ele e sua mulher Nina, vieram nos receber na porta. Eu não ia entrar, mas fui obrigada, pois o Jagunço não me deixava ir embora e quis mesmo me acompanhar de volta. Entrei, levei o cão para o quintal e a porta foi fechada. Eu nem me despedi do Jagunço, pois estive a ponto de chorar de pena dele.
Agradeceram a hospedagem que dediquei ao cão e fui para casa.

Lembrava-me todos os dias do Jagunço e, as crianças também sentiram falta.
Passados uns mês, mais ou menos, uma tarde apareceu o Nelson, pedindo para que eu fosse ver o Jagunço que não comia há dias e estava muito doente.

Chegando perto, levada pelo professor e sua mulher, vi um cachorro magro, feio, estirado num pano no rancho do quintal, era o Jagunço.
Quanto falei com ele, acariciei sua cabeça, ele quis se levantar, abriu os olhos, abanou a cauda e... morreu!

“Os cães também têm sentimento de amizade” – disse o professor, como os olhos cheios de lágrimas.

Eu nem me despedi, saí correndo...

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